domingo, 10 de janeiro de 2016

Junta - Cadáveres - Juan Carlos Onetti

Junta-Cadáveres
Juan Carlos Onetti
Planeta Literário
2009
349 pag


A população de Santa María fechou-se em casa no dia em que Junta-Cadáveres chegou. Cinquentão, ele desembarcou na estação de trem com três de suas mulheres. Ele aportava para realizar aquele que já havia sido seu grande sonho: construir um prostíbulo. E precisava realizar o que planejara. Era assim que pensava.
No dia-a-dia, não o tratavam como Larsen, mas como Junta-Cadáveres, numa referência a sua atividade de "colecionador de putas pobres". Os habitantes de Santa María o receberam em silêncio. No entanto, a reação poderia acontecer a qualquer momento...
Junta-Cadáveres, como muitos dos personagens do uruguaio Juan Carlos Onetti que habitam a mística cidade de Santa María, aparece em outros de seus romances. Neste, desvenda-se aquele que está por detrás da estranha alcunha. Alquebrado, desiludido, fazendo uso de suas ultimas forças.
Junta-Cadáveres (1965) foi finalista do prestigioso prémio Rômulo Gallegos.
Um dos personagens mais marcantes de Juan Carlos Onetti, Junta-Cadáveres é o protagonista deste maravilhoso romance, onde o liberalismo e o pudor se chocam na filosofia dos habitantes de uma pequena cidade. Com um estilo denso e vigoroso, Onetti expõe a luta feroz entre duas forças abafadas pela hipocrisia e pelas aparências.
 
 
Este é o primeiro livro do autor Juan Carlos Onetti que li, e acredito que o primeiro da literatura uruguaia. Digo que foi um pouco difícil, mas gostei e muito.
Difícil pela linguagem, anteriormente li um livro de fácil leitura, rápida e com muitos diálogos e poucos detalhes na narrativa. Nesse o autor usa de muita narrativa e poucos diálogos, onde essa narrativa é em primeira e terceira pessoa, o eu é o personagem Jorge Malabaia, que inicia a história já com a chegada de Larsen, o Junta-Cadáveres, com 3 prostitutas para o primeiro prostíbulo de Santa Maria.
E digo que gostei muito pelo fato de ser muito descritivo e um tanto parecido com a literatura clássica brasileira, com detalhes dos lugares, da sociedade e de seus personagens, e a história é um realismo da sociedade da época (1965), onde havia forte influencia da religião, características de cidade pequena, conservadora, e com valores puritanos (totalmente contra os prostíbulos).
A história se desenvolve no sonho de Larsen em montar um prostíbulo na cidade de Santa Maria, onde esse sonho se realiza após 12 anos de espera, com uma autorização concedida após um acordo entre um senador e o médico da cidade, com a intenção de que o prostibulo poderia ajudar nas vendas de remédios, pois iria aumentar as doenças. Isso de início, pois assim que é liberado a abertura da casa noturna, os problemas são outros e não as doenças.
A sociedade não aceita bem essa nova casa na cidade, e a igreja, mais propriamente o padre da cidade, nomeia a Liga dos Cavalheiros para vigiar a casa, perturbar os frequentadores do local, agindo com o objetivo de fechar a casa que para eles é uma ofensa a Deus.
A narrativa segue com o olhar do personagem Jorge, que narra em primeira pessoa, e os demais personagens em terceira pessoa. Jorge desde o início aparece, já citando sua inspiração feminina, Julita, que na realidade é sua cunhada, que louca confunde o marido morto com o irmão dele, Jorge. Interessante ressaltar, que o segundo capítulo é com Jorge vendo o Junta-Cadáveres e as 3 mulheres, pensando em Julita, e também o penúltimo capítulo é com Jorge vendo o Junta-Cadáveres e as 3 mulheres, e recebendo uma notícia de Julita. Situações parecidas com destinos diferentes. O narrador conta com detalhes os personagens e seus pensamentos profundos, desde os que são a favor da casa e os que são contra a casa, e seus motivos obscuros relatados ao leitor. Vale frisar, que mesmo aqueles que no início se parecem a favor da casa, posteriormente o leitor se encontra em duvida dessa posição, e os que no início eram contra, posteriormente também não serão tão contra assim.
O enredo principal, o prostíbulo e o Junta-Cadáveres, se desenvolve com seus personagens principais e secundários, mas para mim o mais interessante é a realidade com que a sociedade da época foi retratada diante desse "problema" que era o prostíbulo. A maneira como a religião influenciava a opinião e as atitudes das pessoas, como o conservadorismo estava acima de tudo, a liberdade de expressão era limitada (não se poderia falar em nenhuma nota sobre esse local), e também como as pessoas escondem seu verdadeiro "eu", querendo ser aceita na sociedade, no grupo local, sermão patriarcal com o velho ditado "faça o que digo e não o que faço ou fiz". Reflexões que levam o leitor a pensar, imaginar a vida daquela época, de modo real, intenso por meio da narrativa de seus personagens.
Sobre o final, digo que "suspeitei desde o princípio", mas vale ler todas as linhas e entrar nessa narração de coração e mente aberta para sentir e entender o drama vivido por esses personagens, que esse autor retrata muito bem em sua sociedade imaginária real.

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